USS Juneau: mais um naufrágio da Segunda Guerra encontrado

Mais de 75 anos atrás, 687 tripulantes afundavam com o navio, incluindo os célebres irmãos Sullivan

Por: Marcella Duarte | Divemag.com

E o R/V Petrel continua surpreendendo o mundo com suas descobertas. O time de exploradores, liderado por Paul Allen, acaba de anunciar que localizou mais um naufrágio da Segunda Guerra: o cruzador rápido USS Juneau (CL-52). Ele foi encontrado no sábado, 17/3, a 4.200 metros de profundidade, perto das Ilhas Solomon, no Pacífico Sul.

O veículo submarino autônomo (AUV) do Petrel inicialmente identificou os destroços por seu sonar “side scan”. Após analisar os dados, a equipe enviou o veículo submarino operado remotamente (ROV), no domingo, para verificar o naufrágio por meio de vídeo.

Primeiras imagens do Juneau, feitas no domingo (18/3):

O Juneau repousa em três pedaços. Curiosamente, a popa e a proa estão juntas, bem danificadas e rodeadas por um grande campo de destroços, afastadas da parte principal do casco em cerca de 800 metros. A seção da proa está adernada a bombordo, com um comprimento estimado entre 10 e 15 metros. Adjacente a ela está a popa, apoiada na quilha e com mais ou menos o mesmo tamanho.

Um dos dois hélices do cruzador

 

Na popa, é possível ver a inscrição do nome Juneau, acima do escovém da âncora

Também foram encontrados armamentos, incluindo cargas de profundidade ainda intactas. De acordo com os pesquisadores, a pintura de camuflagem do Juneau pode ser vista nos destroços do casco. Mais imagens e vídeos devem ser divulgados nos próximos dias.

Cargas de profundidade de bombordo ainda estão em seus suportes (“barril” no centro da imagem, acima)

 

Uma das oito duplas de armas Mark 12 calibre 5’/38 (127mm), a bombordo do Juneau

O USS Juneau afundou no dia 13 de novembro de 1942, após ser torpedeado por um submarino japonês, durante a Batalha de Guadalcanal. Apenas 10 dos 697 tripulantes sobreviveram.

Batalha às cegas

O Juneau chegou a Guadalcanal no início da manhã de 12 de novembro de 1942, como parte da força-tarefa 67, escoltando navios que levavam cargas de alimentos, munições e reforços de tropas à região.

No dia seguinte, os norte-americanos, com 5 cruzadores e 8 destróiers encontraram um grupo japonês com 2 encouraçados, 1 cruzador rápido e 11 destróiers. Sob tempo ruim e comunicações confusas, a batalha aconteceu quase toda na escuridão da madrugada e à queima-roupa, com navios dos dois lados se misturando.

USS Juneau no porto de Nova York (11/2/1942)

O Juneau foi atingido a bombordo, na área da fornalha, por um torpedo lançado pelo destróier Amatsukaze, e precisou se retirar. Com sistemas falhando, apenas um hélice funcionando, o deck envergado e a proa abaixada, rumou a Espiritu Santo (Vanuatu) para reparos, ao lado de mais quatro navios americanos danificados na batalha – os cruzadores USS Helena e USS San Francisco e os destróiers USS Sterett e USS O’Bannon.

Por volta das 11h, o caminho do grupo se cruzou com o do submarino japonês I-26, que disparou dois torpedos, provavelmente em direção ao San Francisco – mas ambos passaram reto. Um deles atingiu o Juneau, na mesma área já torpedeada durante a batalha. Houve uma grande explosão. O navio se partiu e desapareceu em 20 segundos.

Temendo mais ataques do I-26, e assumindo que todos a bordo do Juneau haviam morrido, as outras embarcações partiram sem tentar nenhum tipo resgate. Mas cerca de 115 tripulantes haviam sobrevivido à explosão e ao afundamento. Eles se viram à própria sorte em mar aberto, até a chegada de socorro aéreo, uma semana depois. Nessa espera, foram sendo vítimas das intempéries, inclusive ataques de tubarões. Apenas 10 sobrevieram.

Leia o impressionante relato de Allen Clifton Heyn, artilheiro de 2ª Classe, sobrevivente do naufrágio: http://www.americanheritage.com/content/one-who-survived?page=show

Irmãos Sullivan

O naufrágio do USS Juneau ganhou notoriedade com a notícia de que cinco irmãos haviam morrido no episódio. A família Sullivan, de Waterloo (Iowa), perdeu Joseph “Joe”, Francis “Frank”, Albert “Al”, Madison “Matt” e George durante a batalha de Guadalcanal

Irmãos Sullivan a bordo do Juneau, da esquerda para a direita: Joe, Frank, Al, Matt e George (14/2/1942)

Sob o lema “We stick together” (nós permanecemos juntos), a condição dos cinco para servir a Marinha era que fossem designados para o mesmo navio – contrariando a orientação de separar parentes em unidades diferentes.

Após o episódio, as forças armadas adotaram a política do “único sobrevivente” – que vemos no filme “O resgate do soldado Ryan” (1998), no qual uma missão é enviada para mandar para casa o último filho de uma família destruída pela guerra.

De acordo com relatos, dois ou três dos Sullivan sobreviveram ao afundamento, não resistindo aos dias que passaram no mar a espera do resgate. Historiadores consideram a morte dos cinco irmãos como um grito de guerra, um apelo de união para as forças aliadas.

Coincidentemente, o Juneau foi encontrado no dia de St. Patrick – uma forma incidental de homenagear a família, de origem irlandesa.

As expedições de Paul Allen também localizaram o USS Lexington (março/2018), o USS Indianapolis (agosto/2017), o USS Ward (novembro/2017), o USS Astoria (February 2015), o encouraçado Japonês Musashi (março/2015) e o destróier italiano Artigliere (março/2017), entre outros naufrágios.

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