Cavalos-marinhos voltam à Baía de Guanabara

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Pesquisador constata, em mergulhos num trecho da Zona Norte, aumento na presença de espécies que, frágeis, sobrevivem apenas em águas limpas

O saneamento de 80% da Baía de Guanabara até 2016, um dos compromissos do poder público para os Jogos Olímpicos do Rio, é praticamente inalcançável, avalia pesquisa do Instituto de Política Econômica Aplicada (Ipea). Da mesma forma, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, reconheceu que a despoluição da área é tema “complexo” e que os esforços devem ser contínuos “nos próximos 20 anos”. Mas, aos poucos, em alguns pontos, é possível notar melhorias.

Nas águas próximas à Ilha do Governador, o pesquisador Cesar Bernardo Ferreira já notou aumento na presença de cavalos-marinhos, espécie frágil, que não se adapta a locais poluídos. Pós-graduado em Biologia Marinha e Oceanografia e mestre em Química, Ferreira estuda os cavalos-marinhos há um ano e meio para seu doutorado pelo Projeto Hippocampus, de Porto de Galinhas (PE).

Sua pesquisa chama-se ‘O Hippocampus sp como espécie bandeira para a conservação da Baía de Guanabara’. Seu local de observação são as praias da Ilha do Governador. Este ano, o biólogo já catalogou 23% mais cavalos-marinhos do que em todo o ano de 2013. “Isso indica que o esgoto está sendo tratado. A qualidade da água está melhor. Essa espécie, e outras que tenho avistado, não se adaptam em águas poluídas”. Siris, ouriços, anêmonas, estrelas-do-mar e aves marinhas são avistadas com frequência por Ferreira.

Sardinhas, tainhas e bagres, animais típicos de baía, também estão voltando ao lar, segundo o pesquisador, que mergulha desde 1991. “Este ano houve aumento na visibilidade das águas, o que é um indicativo de melhoria”, explica Ferreira. “Eu garanto que há dias em que a água está transparente na Ilha. Mas as pessoas não acreditam”, afirma o mergulhador solitário.

Programa de despoluição

O Programa de Despoluição da Baía de Guanabara aumentou, nos últimos quatro anos, a quantidade de esgoto tratado, segundo a Cedae. São agora oito mil litros de esgoto por segundo tratados — antes, eram dois mil. O tipo de tratamento também mudou: era primário (retirava 40% das impurezas do esgoto da água) e agora é secundário (98%).

A previsão é chegar a 2016 tratando, em regime secundário, 16 mil litros de esgoto por segundo. O pesquisador José Feres, do Ipea, diz que o sucesso depende de articulação na governança. Ele elogia o programa, por apoiar planos municipais de saneamento básico e dar espaço ao setor privado, mas aponta a necessidade de a sociedade civil e o Comitê de Bacia Hidrográfica da Baía integrarem a governança.

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