“Posso deixar um legado legal para o mergulho, que é a preservação desses animais incríveis”; confira entrevista exclusiva com o autor
Por: Marcella Duarte | Divemag.com
Ontem, 4/4, o médico e mergulhador Gabriel Ganme lançou seu livro “Sobre Homens e Tubarões”, em uma noite de autógrafos no The Sailor Pub.

Por meio de belíssimas fotografias subaquáticas, o livro retrata o fascínio dos mergulhadores por esses seres extraordinários, além de mostrar a triste realidade da pesca. Fica clara a importância dos tubarões para o equilíbrio dos ecossistemas e a saúde dos oceanos, e a necessidade de protegê-los – na contramão da injusta fama de feras assassinas.
São relatos exclusivos de Gabriel experiências atrás dos tubarões ao redor do mundo. Causos divertidos, curiosidades, características de cada espécie, recomendações para uma interação segura e contemplativa, dicas de onde mergulhar com eles. Leitura obrigatória para qualquer mergulhador e amante do mar.

A Divemag não poderia deixar de prestigiar o evento e falou com exclusividade com o autor. Confira a entrevista:
Divemag – O lançamento atendeu suas expectativas?
Gabriel Ganme – Claro, foi uma noite super legal! Encontrei muitos mergulhadores, antigos e novos, conheci gente, revi grandes amigos. Uma grata surpresa foi a presença de muitas pessoas que não mergulham mas se interessaram em apoiar a causa. Porque embora o livro não seja específico para mergulhadores, o apelo são os tubarões, e quem gosta de tubarão geralmente é mergulhador.
DM – Como foi o processo de preparação do livro?
GG – Mergulho com tubarões há mais de 30 anos. Nos últimos 15, como estava focado na medicina e parei de trabalhar com mergulho, praticamente só fiz viagens pra ver tubarões, então intensifiquei estes registros. Quando saí do mercado, senti uma falta muito grande de passar algo para as pessoas; o Gabriel de repente desapareceu do mergulho e não deixou nada, não deixou um legado. Então eu sentia que poderia ajudar, levar uma mensagem ao mundo. Fui olhar quem é que mais me atrai no mergulho e quem é que sofre mais… é o tubarão. É difícil convencer as pessoas de que ele não é esse monstro que a mídia construiu, e também há uma pesca desenfreada que tem dizimado as espécies. Foi aí que falei: posso deixar um legado legal para o mergulho, que é a preservação dos tubarões.
DM – Quais as dificuldades de atuação nesta causa?
GG – É muito fácil pregar para os fiéis, mas para quem não é fiel, não é mergulhador, é mais difícil. Mas tenho sido ajudado por muita gente. A maioria das pessoas que abraçaram a causa esteve comigo em várias viagens, muitos dos apoiadores do livro mergulharam bastante com tubarões, contribuíram com imagens e participando das histórias. Amigos, fotógrafos, biólogos. Eu vivi muito o outro lado, do turista abobalhado pelo tubarão, e eu acho que talvez isso seja algo bastante palatável para as pessoas. Como é mergulhar com tubarão? É perigoso? Claro que não! Tudo tem risco na vida mas, honestamente, morar em São Paulo é muito mais perigoso que um shark dive. Eu já sei o que esperar do tubarão, se eu seguir as normas de segurança não vai acontecer nada.
DM – Como podemos ajudar na preservação?
GG – Existem diversas causas, instituições que lutam pelos tubarões. Todos podem se unir a elas, podem alertar as pessoas a não consumirem cação, podem ajudar na preservação. Se você sai num barco de pesca e sem querer um tubarão é pego, legal, tira foto, mas devolve esse bicho. Nas Bahamas, por exemplo, que hoje virou um santuário, você encontra muito tubarão com anzóis ou ferimentos, o que quer dizer que estão sendo devolvidos. No nosso país não há nenhum grande projeto de preservação de tubarões, como vemos acontecer com o Mantas do Brasil, um trabalho super legal. O tubarão você nem vê muito por aqui porque quase não há mais tubarões no Atlântico Sul. Em Fernando de Noronha agora as populações estão bem maiores, estão voltando, mas se está melhorando é porque piorou muito primeiro. Precisamos matar quase todos os tubarões do arquipélago para agora começar a cuidar deles. Então eu acho que o grande foco são as crianças e adolescentes, precisamos olhar para as novas gerações. Faço palestras gratuitas em escolas, os biólogos também fazem.
DM – Está otimista com as novas gerações?
GG – Estou sim, nas palestras vemos os olhos das crianças brilhando, eles já sabem que o tubarão não é esse bicho monstruoso, que tem muita coisa que a gente pode fazer. As escolas de mergulho já passam uma mensagem de defesa dos animais, nosso mercado já faz sua parte. O problema ainda é a nossa mentalidade. Pessoas que veem um tubarão na praia e querem tirar da água, que fazem um mergulho na África e dizem que encontraram “aquele monstro”. Poxa, você não mergulhou com monstro, você mergulhou com um animal muito legal, muito evoluído, e teve uma oportunidade que pouca gente tem. Então ajude a preservar e não a mitificar o bicho. Você que entrou no ambiente dele. Poxa, tubarão nem gosta de ser humano, em geral vai embora quando entramos na água, por isso muitos mergulhos usam iscas para atraí-los. Precisamos divulgar essas experiências da maneira mais positiva possível.
DM – Os aquários também podem ajudar nessa conscientização?
GG – Com certeza. Se fala muito que o aquário é mau, que é sacanagem com os animais. Mas não é bem assim. Quando o pessoal vai para Orlando, todo mundo quer ir no aquário, no Sea World. Então por que não pode ir em um aquário no Brasil? O AquaRio está voltado para uma causa ambiental, tem projetos super legais. O diretor, Marcelo Szpilman, é um preservador de tubarões. Claro que acho um absurdo meter um tubarão baleia em um aquário, mas apoio trabalhos bem feitos. Meia dúzia de tubarões bem cuidados, para que as pessoas os vejam e se encantem, pode despertar conscientização em muito mais gente, pode incentivar novos mergulhadores. Na minha opinião não há sacanagem nenhuma nisso. Pelo contrário, é uma oportunidade para quem não mergulha, para quem não pode ter a experiência completa. Tem gente que nunca vai poder mergulhar, que não tem como pagar por isso, mas consegue visitar um Aquário.
DM – Agora o legado do Gabriel será através dos livros?
GG – Quem sabe venham mais alguns. Mas meu legado para os tubarões é continuar levando cada vez mais pessoas para vê-los e tirar essa imagem ruim que os cerca. Meu olhar é apenas o de um mergulhador que ama o bicho. Mas esse legado me ultrapassa, só dei uma colaboração muito pequena, que espero que ajude na preservação.
Dr. Gabriel Ganme, 58, é médico especialista em Medicina Esportiva pela Escola Paulista de Medicina e instrutor de mergulho há mais de 30 anos, sendo um dos mais renomados profissionais do mercado brasileiro. Mergulhou com diversas espécies de tubarões por todo o planeta, apresentando esses animais incríveis a muitos mergulhadores. “Sobre Homens e Tubarões” já pode ser encontrado nas principais livrarias brasileiras, ao preço sugerido de R$119.
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