Raríssimo peixe-opah, de sangue quente, é pescado em Santos

Um dos peixes mais raros e intrigantes do mundo foi visto ontem, 5/11, no Mercado de Peixes de Santos, no litoral sul de São Paulo, logo após ter sido retirado do mar. A princípio, os peixeiros acreditavam ser um ‘peixe-lua’; no entanto, tratava-se de um peixe-opah (Lampris guttatus) macho de mais de 30kg. Também conhecido como moonfish, peixe-sol ou peixe-imperador, é o único peixe de sangue quente conhecido pela ciência, descoberto em 2015.

A identificação só foi possível porque um morador da cidade resolveu fazer uma foto do peixe “gigante e diferente”. “Ontem, fui comprar peixe na banca 9, como de costume, e o pessoal estava pesando esse que tinha acabado de chegar. Lembro que deu 32 kg. Tão pesado que até quebrou um isopor. Achei bonito e diferente, então pedi para uma das vendedoras segurá-lo e fotografei”, explica Alfredo de Souza.

Segundo o morador, os peixeiros acreditaram que era um peixe-lua. “A vendedora me disse que um pescador levou para pesar e só falou que tinha pescado ele a umas 150 milhas [240 km] da costa. O dono da banca tentou comprar a todo custo. Ofereceu R$ 200, mas o pescador não aceitou e foi embora”, acrescenta. Este é o primeiro registro da espécie no Brasil.

Peixe-opah de 32kg foi pescado a 150 milhas da costa do litoral sul de SP | foto: Alfredo de Souza/Arquivo Pessoal

Espécie rara

O peixe-opah costuma chamar atenção pela coloração avermelhada, com manchas brancas, e por seu grande tamanho. De acordo com pesquisadores, ele pode atingir um comprimento de 2 metros e um peso de 270 kg. Espécie predadora oceânica, de águas frias e profundas, seu aparecimento aqui pode estar relacionado ao aquecimento global.

O biólogo marinho e cinegrafista subaquático Eric Comin confirmou a identificação do exemplar de Santos. “Ele não é comum nos nossos mares, mas pode aparecer em águas temperadas e tropicais. É um peixe que tem uma distribuição mundial, porém, é mais frequente no Havaí e África Ocidental. O surgimento desse animal no Brasil está ligado diretamente à mudanças climáticas”, explica.

“Esse peixe tem uma característica incrível. Eles são considerados os primeiros peixes no mundo a terem o sangue quente. Isso os ajuda também a se mover rapidamente para caçar as presas. A diferença para os demais é que os outros variam a temperatura do corpo de acordo com o meio ambiente. É um animal incrível justamente por todas essas curiosidades”, finaliza Comin.

Mercado de Peixe, em Santos, SP — Foto: Carlos Nogueira/A Tribuna de Santos
Mercado de Peixe, em Santos/SP | foto: Carlos Nogueira/A Tribuna de Santos

Sangue quente

peixe-opah é capaz de gerar calor pelo constante movimento de suas nadadeiras vermelhas e distribuí-lo através de uma rede de vasos sanguíneos ao redor das brânquias, isoladas por uma generosa camada de gordura, mantendo seu sangue e órgãos quentes enquanto nada a profundidades de até 500m. Seu corpo está sempre entre 3ºC e 5ºC acima da temperatura da água – pode não parecer muito para nós, mas requer uma sofisticada engenharia térmica.

Esse sistema de aquecimento autônomo mantém o cérebro do peixe afiado e seus músculos ativos. Por isso, diferente das demais espécies das profundezas (lentas, emboscam suas presas em vez de perseguí-las), é um ágil predador, podendo se alimentar de lulas e outros animais velozes e migrar por longas distâncias sem precisar ir a superfície.

Outros peixes, como o atum e alguns tubarões, conseguem aquecer certas partes e músculos do corpo – dessa forma se movimentam mais rápido quando precisam perseguir alguma presa , mas seus órgãos internos rapidamente ficam frios, forçando-os a subir. O opah é o único peixe conhecido com endotermia completa, da mesma maneira que mamíferos e aves.

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