Peixes recifais com menos de 5 centímetros são a resposta ao ‘paradoxo de Darwin’

Ao longo do século passado, pesquisadores tentaram entender como os recifes de coral conseguem se manter vivos com poucos nutrientes; cientistas de quatro países mapearam 2.800 espécies de peixes minúsculos que fazem o ecossistema se manter ativo porque se multiplicam rápido e morrem cedo.

Se um mergulhador tiver a sorte de encontrar um peixe criptobentônico – assim chamado por sua aparência iluminada – tudo o que poderá vislumbrar será um breve lampejo de cor. Mas esses minúsculos nadadores podem ser a pedra fundamental que mantém vivos os recifes de corais, possibilitando que peixes maiores e muitos invertebrados prosperem, de acordo com um novo estudo. E eles poderiam ajudar a resolver um mistério que confundiu até mesmo o pai da evolução, Charles Darwin (1809-1882).

Os recifes de coral são o equivalente marinho das florestas tropicais. Repletos de peixes, caranguejos, esponjas e outras criaturas, eles servem de casa para um terço da vida marinha. No entanto, como Darwin observou em 1842, o belo azul das águas em torno desses espaços significa que há pouco plâncton microscópico, que constitui a base alimentar da maioria dos ecossistemas marinhos.

Ao longo do século passado, os pesquisadores tentaram resolver o “Paradoxo de Darwin. Afinal, como os recifes permanecem vivos, se são pobres em nutrientes? A primeira teoria a surgir afirmava que a topografia inclinada dos recifes captura e concentra os nutrientes e o plâncton microscópico das águas. A segunda aponta que as esponjas e outros invertebrados fazem reciclagem de matéria orgânica morta, transformando-a em algo que pode ser comido. Agora, uma terceira teoria surge: a profusão de pequenos peixes – com menos de 5 centímetros – mantém o coral vivo porque viram comida para outros animais.

Peixes minúsculos representam 60% da massa de alimento marinho

“Os menores vertebrados do oceano, os peixes recifais criptobentônicos, promovem a produção interna de biomassa de peixes de recife através de excepcional suprimento de larvas”, escrevem os autores da pesquisa publicada na quinta-feira (23) pela revista científica Science. Ou seja, a importância destes minúsculos peixes reside no fato de que eles se multiplicam muito rápido e são comidos tão rápido quanto. Dez pesquisadores do Canadá, Estados Unidos, França e Austrália analisaram as mais de 2,8 mil espécies de peixes com menos de 5 centímetros e concluíram que eles formam 60% da massa de alimento marinho.

Ao não lidar com esses pequenos, estávamos perdendo uma grande parte do que está acontecendo nos recifes e na cadeia alimentar – diz Nancy Knowlton, bióloga de recifes de corais do Museu Nacional de História Natural Smithsonian em Washington (EUA), que não esteve envolvida no trabalho.

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