Países tentam criar santuário para preservar biodiversidade na Antártica

Exemplar de pinguim-papua é visto na Baía do Almirantado, região onde está abrigada a Estação Antártica Comandante Ferraz (Foto: Eduardo Carvalho/G1)
Exemplar de pinguim-papua é visto na Baía do Almirantado, região onde está abrigada a Estação Antártica Comandante Ferraz (Foto: Eduardo Carvalho/G1)

Países que defendem a criação de santuários marinhos na costa da Antártica, em uma área do tamanho da Índia, estão reunidos desde esta quarta-feira (24) na Austrália com a esperança de superar desavenças e chegar a um acordo favorável aos seus planos.

Os membros da Comissão para a Conservação dos Recursos Vivos Antárticos (CCAMLR) – que tem 25 países membros, entre eles Brasil, Estados Unidos, União Europeia, Rússia, Ucrânia e China – estão em Hobart, na ilha australiana da Tasmânia, para tentar chegar a um acordo após várias tentativas fracassadas.

O objetivo é proteger os “últimos territórios marítimos virgens” que, segundo ecologistas, são o habitat de 16 mil espécies, entre as quais estão baleias, focas, pinguins e peixes endêmicos. À medida que as populações de peixes diminuem drasticamente após décadas de pesca predatória, os barcos pesqueiros se dirigem cada vez mais para o sul.

“É hora de agir”, afirmou Andrea Kavanagh, diretor do projeto de criação de santuários no oceano Austral para o Pew Environment Trust. “Os países podem superar as tentativas frustradas do ano passado reunindo-se este mês para salvaguardar estas áreas vitais”, acrescentou.

Um primeiro projeto, liderado por França, Austrália e Alemanha, defende a criação de sete áreas marinhas protegidas no leste da Antártica, do lado do Oceano Índico, em uma superfície de 1,6 milhão de km². Estados Unidos e Nova Zelândia querem estabelecer uma área marítima protegida de 1,25 milhão de km² no Mar de Ross, baía profunda voltada para o Pacífico.

A superfície total das áreas marinhas protegidas seria um pouco menor que a Índia e cinco vezes maior que a França. Para que estas áreas protegidas sejam instauradas, precisam receber o aval dos 24 países mais a União Europeia, membros do CCAMLR, um organismo criado em 1982, mediante uma convenção internacional, com o objetivo de conservar a fauna e a flora marinha da Antártica.

Plano ainda sem acordo
Estas propostas foram debatidas em julho passado durante encontro na Alemanha, mas nenhum acordo foi concluído devido – segundo as ONGs – à oposição de Rússia e Ucrânia, que consideram caras as restrições à indústria pesqueira.

“Sempre soubemos que haveria oposição daqueles com interesses relacionados à pesca na região ou que pensam que terão [interesses] algum dia”, declarou, em setembro, o primeiro-ministro da Nova Zelândia, John Key.

Desde então, a Rússia tem enviado sinais confusos e as negociações são “difíceis”, segundo os especialistas, que não conseguem prever exatamente a direção que Moscou vai seguir.

Para tentar vencer a resistência russa, os países que defendem a criação de uma zona protegida no Mar de Ross reduziram a superfície em mais de 20% com relação à proposta inicial, uma tática de negociação qualificada de “surpreendente” pelo Instituto de Política Estratégica da Austrália (ASPI), centro de pesquisas com sede em Canberra. “É difícil esperar um resultado positivo”, concluiu este instituto em um informe publicado.

“Como uma das últimas grandes regiões virgens, a Antártica merece reconhecimento, respeito e um compromisso especial de parte dos governos que decidiram administrá-la”, acrescentou o texto. Os defensores dos santuários marinhos, entre eles alguns que trabalham no projeto há oito anos, alertaram que não vão desistir, mesmo se as negociações em Hobart fracassarem.

Fonte: G1

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