Cientistas se inspiram em golfinhos e criam radar para ajudar em resgates

Foto: Kadu Pinheiro
Foto: Kadu Pinheiro

Engenheiros britânicos anunciaram nesta quarta-feira ter se inspirado nos golfinhos para desenvolver um novo tipo de dispositivo por radar que seria capaz de rastrear facilmente vítimas de soterramento ou mineiros presos no subsolo, por exemplo.

Assim como os cetáceos, o dispositivo envia dois pulsos em rápida sequência, permitindo uma busca direcionada por equipamentos com semicondutores, neutralizando qualquer ruído de fundo, escreveram os desenvolvedores desta tecnologia em artigo publicado no periódico “Proceedings of the Royal Society A: Mathematical and Physical Sciences”.

Com velocidade e precisão maiores do que as do radar convencional, seu dispositivo conseguiu detectar bombas, escutas ou telefones celulares até mesmo em áreas com excesso de barulho metálico, afirmou o co-autor do estudo, Timothy Leighton, da faculdade de engenharia da Universidade de Southampton.

Segundo Leighton, a equipe também desenvolveu um rastreador pequeno e barato, que pode ser fixado no capacete de um minerador, socorrista ou até mesmo nas botas de um esquiador, para ser localizado pelo dispositivo.

‘Visão de golfinho’

Ele disse que a pesquisa teve como motivação a curiosidade para saber como os golfinhos conseguem “ver” além das grandes nuvens de bolhas que sopram para reunir suas presas em grupos menores para se alimentar.

“Pensei comigo mesmo que os golfinhos não deveriam conseguir ver os peixes com os seus sonares no meio destas nuvens de bolhas a menos que fizessem algo muito inteligente que o sonar fabricado pelo homem não consegue”, relatou o cientista.

“Sentei e pensei: Se eu fosse um golfinho, que tipo de pulso eu enviaria a fim de ver estes peixes na nuvem de bolhas?’ Então, decidi que seria um com pulso positivo e outro negativo’, acrescentou.

Assim, ele desenvolveu um sistema de radar que envia pulsos aos pares, sendo que o segundo contém a polaridade reversa do primeiro. Radares comuns enviam um único pulso de rádio. Quando os novos pulsos gêmeos atingiram madeira ou folhas, rochas ou a maioria dos metais, o emissor recebe os mesmos dois pulsos que enviou: um positivo e um negativo, que efetivamente neutralizam um ao outro, prosseguiu Leighton.

“Mas se (o dispositivo) atinge um aparelho com semicondutor, ele pega o pulso de polaridade negativa e o transforma em polaridade positiva, tornando tudo positivo. (Os pulsos) retornam com muita força porque se está adicionando um positivo a um positivo, o que resulta em um sinal muito forte”, continuou.

Rastreador de celulares

A equipe, então, decidiu construir um rastreador de semicondutores pesando menos de 2 gramas e custando menos de um euro, facilmente capturado pelo novo dispositivo. “Se você tem socorristas entrando em um prédio com risco de desabar ou mineradores entrando no subsolo, pode dar os dispositivos a eles e estes dirão a você exatamente onde estão e quem são, porque você pode ajustá-los para identificar a pessoa”, concluiu.

Mas mesmo que não seja possível identificar a pessoa dentro de um prédio que desmoronou, o dispositivo sozinho poderia ser usado para rastrear celulares mesmo desligados ou sem bateria.

Voltando aos golfinhos, embora tenham servido de inspiração para desenvolver a tecnologia, Leighton e sua equipe descobriram que esta não é a forma como o sonar deles funciona. Os golfinhos também enviam pulsos em pares, mas o deles variam em amplitude, não em polaridade.

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