Todo mundo que assistiu o filme “O Segredo do Abismo” (The Abyss – 1989) deve lembrar da cena em que o rato é colocado em um líquido hiperoxigenado, e sobrevive respirando o líquido (a cena pode ser vista aqui). O mergulhador em uma cena posterior também entra em um equipamento de mergulho onde o ar é substituído pelo mesmo líquido.
No filme, a cena do ator faz parte dos efeitos especiais, mas será possível respirar líquidos? A resposta está no próprio filme: a cena em que o rato está respirando o líquido não é efeito especial.
Primeiro é preciso entender algumas coisas. A gente se afoga não por que entra água nos pulmões, mas por que a gente não consegue retirar oxigênio suficiente da água, usando os pulmões. E não consegue por vários motivos. Um deles é que na água há muito pouco oxigênio dissolvido (o ar tem vinte vezes mais oxigênio). Se você se perguntou como os peixes conseguem sobreviver com tão pouco oxigênio, é por que eles têm “sangue frio” e metabolismo mais lento. Nossa exigência metabólica de oxigênio é maior.
Mas e um líquido com mais oxigênio que a água? Como no filme, uma scuba com líquido enriquecido com oxigênio usado para “respirar” já foi patenteada pelo inventor americano e cirurgião de pulmões e coração aposentado, Arnold Lande.
A ideia do inventor é usar um perfluorocarbono, um tipo de líquido que é capaz de dissolver grandes quantidades de gases, em uma scuba com um mecanismo que retire do perfluorocarbono o CO2 e coloque mais O2, retirado da água. Outra alternativa para o CO2 seria uma guelra artifical presa na veia femural, que “perderia” este gás para a água.
Este invento permitiria que os mergulhadores humanos fossem a maiores profundidades e com menos problemas, como a formação de bolhas de nitrogênio quando começam a subir (que pode ser fatal).
Mas não são só os operários da Petrobrás que trabalham em extração de petróleo a grandes profundidades que se beneficiariam. Outros que parecem interessados nisto são os militares. Aparentemente, eles fizeram testes similares na década de 1980, tão intensos que alguns envolvidos, que forçaram líquido para dentro dos pulmões, acabaram rompendo as costelas por estresse. Este problema poderia ser resolvido com um equipamento auxiliar, similar ao “pulmão de ferro”.
Finalmente, há os bebês prematuros. Um dos problemas enfrentado pelos prematuros com menos de 28 semanas é a imaturidade dos pulmões, que faz com que os alvéolos, sem os surfactantes necessários, acabam “colando” quando o pulmão esvazia. Por conta deste problema, só 5% dos prematuros com esta condição sobrevivem. Desde a década de 1990, experimentos com respiração de fluidos são feitos, e nestes testes 60% dos pacientes sobrevivem.
Outros possíveis beneficiados seriam os pacientes com danos pulmonares e cardíacos, e também astronautas, onde uma cápsula líquida poderia ser usada para substituir uniformes usados para lidar com forças G extremas.
Por enquanto, as pesquisas estão paradas, já que é preciso um fluido menos denso e mais econômico. Os perfluorocarbonos são duas vezes mais densos que a água, o que faz com que não sirvam para longos períodos, por causa do estresse imposto aos pulmões. Além disso, os perfluorocarbonos são vendidos a preços que variam entre US$60 (R$120,00) a US$150 (R$300,00).[Wikipedia, The Independent]
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