Uma das criaturas mais fascinantes do mar, é a lagosta-boxeadora, o camarão mantis ou “mantis shrimp” é conhecido por desferir o soco mais potente do mundo animal, cientistas desvendaram o funcionamento desse poderoso soco digno de Mike Tyson.
O camarão mantis é um crustáceo estomatópode, também conhecido como tamarutaca, lacraia-do-mar, lagosta-boxeadora ou camarão-louva-a-deus-palhaço. Dentre 400 espécies, o ‘Odontodactylus scyllarus‘ é o que desfere um golpe mais poderoso: seu soco chega a 80 quilômetros por hora, uma aceleração semelhante a um disparo de uma arma calibre .22.
Com uma pressão resultante de 60 quilos por centímetro quadrado, o animal consegue facilmente quebrar a carapaça de um caranguejo, ou até mesmo o vidro de um aquário, em alguns casos.
Há outras espécies de tamarutacas no litoral brasileiro. Mas o ‘Odontodactylus scyllarus’ habita a região do Indo-Pacífico, de Guam até a África Oriental.

Outra característica impressionante desse pequeno crustáceo são seus olhos incríveis, que possuem três pontos focais cada e são capazes de enxergar do espectro ultravioleta ao infravermelho. Para que você tenha uma ideia, o olho humano contém milhões de células fotorreceptoras, entre elas os cones, que são as que nos permitem ver as cores.
Nossos olhos possuem três tipos desses receptores — que respondem à luz azul, verde e vermelha —, que nos permitem perceber o espectro de cores que vemos. Os cães contam com apenas dois tipos de cones (verde e azul), e é por isso que eles vêm tons de azul, verde e um pouco de amarelo. Já as borboletas, sortudas, possuem cinco tipos de cones, o que significa que elas conseguem enxergar cores que o nosso cérebro é incapaz de processar.
Contudo, as lagostas-boxeadoras são um crustáceo tão sensacional que elas não possuem dois, três ou cinco tipos de cones apenas. Elas contam com 16! Assim, o arco-íris que elas enxergam deve ser uma verdadeira explosão termonuclear de cores, luz e beleza.

Pesquisa
Em artigo publicado na última semana no jornal iScience, pesquisadores explicam o que acontece no organismo desse crustáceo e como funciona seus apêndices que, tais e quais porretes, são capazes do mais poderoso golpe do reino animal.
Em linhas gerais, a pesquisa demonstrou que o golpe do camarão funciona graças a uma estrutura que armazena e libera energia. São duas camadas feitas de diferentes materiais.
“Trata-se essencialmente de uma estrutura de duas camadas: uma superior, feita de biocerâmica (carbonato de cálcio amorfo), e uma inferior, de biopolímero (quitina e proteínas)”, explicou ao UOL o pesquisador Ali Miserez, professor da Universidade de Tecnologia de Nanyang, em Singapura, principal autor do estudo.

“A estrutura orgânica é carregada elasticamente pela flexão, de tal forma que a camada superior é comprimida enquanto a camada inferior é esticada.”
Segundo Miserez, este arranjo tem a capacidade intrínseca de explorar as propriedades mecânicas do material: as cerâmicas são fortes em compressão e podem armazenar uma quantidade maior de energia.
“No entanto, eles são frágeis sob carga de tração, portanto, uma estrutura feita apenas de biocerâmica não funcionaria para armazenar energia, porque a parte inferior provavelmente se quebraria. É aí que o biopolímero é útil – pois é mais forte em tensão, de modo que a camada inferior pode ser esticada sem se danificar”, complementa o cientista.
Veja esse vídeo produzido pelo Instituto Smithsonian:
Histórico e aplicação
O pesquisador diz que houve trabalhos de outros cientistas utilizando câmeras de alta velocidade e sensores de força para medir o impacto do soco do camarão mantis.
“Esses dados mostraram a força que tais animais conseguem geral com seus apêndices porretes”, afirma. “Em nossa pesquisa, investigamos a estrutura e as propriedades micromecânicas desse organismo. Mostramos como ele consegue gerar forças tão altas sem se fraturar.” De acordo com o cientista, se a estrutura fosse feita de um material homogêneo, certamente se quebraria.
A pesquisa concluiu que “a natureza desenvolveu um design muito eficiente”, no caso da maneira como este camarão utiliza seu próprio organismo para caçar suas presas – tamarutacas são animais exclusivamente carnívoros: alimenta-se de camarões menores, caranguejos, moluscos e peixes.
O estudo do camarão mantis pode nortear o desenvolvimento de estruturas artificiais em impressoras 3D e utilizá-las em microrrobótica, por exemplo.
“Se você puder comprimir essas estruturas, elas serão muito fortes”, diz Miserez.
More
World’s Most Powerful Solar Telescope Captures Unprecedented Image of the Sun
Incredible Encounter: World’s Largest Shark Spotted in Ilhabela (SP)
Fossil Found in Brazil Reveals the Oldest Known Ant Species