Pela primeira vez no Atlântico Sudoeste, foram utilizadas técnicas de estereovídeos para quantificar o efeito de áreas marinhas protegidas na comunidade de peixes que habita esses locais. O estudo envolveu pesquisadores da Unesp, em conjunto com a University of Western Australia, Universidade Federal de São Paulo e Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

A pesquisa foi desenvolvida na Estação Ecológica (ESEC) de Tupinambás, uma área marinha protegida (AMP) de restrição total na costa norte de São Paulo, que abrange partes do Arquipélago dos Alcatrazes, em São Sebastião, e as Ilhas de Palmas e Cabras, em Ubatuba. O estereovídeo é um equipamento formado por duas câmeras, que permitem a produção de uma imagem em três dimensões, dando a noção de profundidade e permitindo a medição do objeto filmado através de um software.
Publicado no início de janeiro na revista PLoS One, o estudo fornece a primeira quantificação da resposta da comunidade de peixes a variáveis ambientais e de habitat, bem como o efeito da proteção – por meio da comparação com áreas em que a pesca é permitida –, usando esses novos métodos de estereovídeos não destrutivos no Brasil. O artigo faz parte do doutorado de Fernanda Rolim, orientada pelos professores Otto Gadig, do Câmpus do Litoral Paulista (CLP) da Unesp, e Tim Langlois, da University of Western Austrália.
Foram utilizados os métodos estéreo de filmagem subaquática com isca (Baited Remote Underwater Stereo-Video-Stereo-BRUV), operada por controle remoto, e estereovídeo operado por mergulhador (Diver Operated Stereo-Video-stereo-DOV). “Ambas as técnicas são amplamente utilizadas em nível mundial e permitem registrar um número grande de informações sem causar mortalidade aos indivíduos envolvidos, nem danos ao habitat”, informa Rolim. “Além disso, os sistemas estéreo (duas câmeras) permitem tirar medidas precisas a partir da imagem sem qualquer manipulação.”

As variáveis ambientais avaliadas foram temperatura da água, distância da costa, época do ano, profundidade, complexidade do habitat (topografia), tipo de fundo (rochoso, coralíneo areia) e composição da comunidade de bentos (invertebrados e algas associados às rochas). Foram analisadas espécies que são alvo da atividade de pesca, das famílias Scaridae (peixes-papagaio), Carangidae (xaréus, olho-de-boi, peixe-galo e pampos), Epinephelidae (garoupas) e Kyphosidae (pirajicas).
Como resultado, foi registrada maior abundância e biomassa de peixes dentro das áreas protegidas, mais destacadamente para as espécies-alvo da pesca. Também foi constatada uma densidade significativamente mais relevante de indivíduos maiores de espécies-alvo dentro dessas áreas.
Além do efeito de proteção, a proximidade da costa mostrou um efeito negativo na riqueza, abundância e biomassa dos peixes, o que provavelmente está relacionado à proximidade de atividades realizadas por seres humanos.
A autora comenta que o estudo funciona como uma linha de base, permitindo que pesquisadores e tomadores de decisão identifiquem os efeitos da pesca na comunidade de peixes em diferentes AMPs na região usando esses métodos de estereovídeos.
“Esses dados são importantes porque complementam as técnicas de amostragem visual usadas tradicionalmente, oferecendo estimativas robustas sobre as espécies-alvo entre áreas protegidas e abertas à atividade pesqueira”, diz Rolim.

“O aprimoramento de técnicas não-letais e não-destrutivas para avaliar a assembleia de peixes é crucial, especialmente para habitats sensíveis dentro de áreas protegidas, como os ambientes relacionados a recifes, que abrigam uma quantidade significativa de espécies ameaçadas e endêmicas.”
“Nossas descobertas mostram forte influência da proteção, distância da costa e habitat nas características da comunidade de peixes, em que áreas protegidas mais distantes da influência humana e com maior complexidade topográfica tendem a ter maior abundância e biomassa de peixes.”
O trabalho foi desenvolvido em colaboração com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, Universo Marinho e Instituto Biopesca, e financiado pela Fundação Grupo Boticário para a Proteção da Natureza e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Veja mais na reportagem da Unesp Ciência.
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