Ocearch começa expedição em Recife para estudar tubarões tigre

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Essa é a 20ª expedição do navio da Ocearch, especialista em pesquisas sobre tubarões. (Foto: Katherine Coutinho / G1)

Uma expedição de pesquisa, que começa na quarta-feira (23), no Recife, vai estudar o comportamento dos tubarões-tigre ao longo da costa do Nordeste. A ação vai permitir planejar de forma mais eficaz medidas para evitar novos ataques. A apresentação do projeto aconteceu nesta terça-feira (22), um ano depois do último ataque registrado na capital pernambucana, que acabou resultando no falecimento da turista paulista Bruna Gobbi.

A escolha da espécie de tubarão se deu devido ao número de ataques serem mais frequentes na costa com os tigres. O número de incidentes na costa pernambucana foi o que chamou a atenção da organização americana  Ocearch, que trabalha ao redor do mundo pesquisando tubarões, buscando não somente promover a segurança pública, como também a preservação dos animais.

A preocupação da organização é também de conscientizar a população sobre o tema dos tubarões. “A cada dia, são mortos 250 mil tubarões para serem feitas sopas na Ásia. Se continuarmos assim, não vamos ter peixes para as próximas gerações. Os tubarões são os guardiões do equilíbrio do mar”, destaca  o fundador e líder de exploração da Ocearch, Chris Fischer.

A expedição segue até o dia 14 de agosto. A bordo vão pesquisadores brasileiros, tendo à frente da equipe o pesquisador da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) Fábio Hazin. Partindo do Recife, a embarcação segue ainda para Fernando de Noronha, o estado de Sergipe e Natal (RN), a fim de compreender como um todo o deslocamento dos tubarões-tigres e sua rota migratória, seu ciclo de reprodução e hábitos.

“Sabemos que os tubarões geralmente se deslocam de Sul para Norte, mas o que acontece depois? Eles seguem mais para o Caribe ou para o Oceano? Conhecemos a vida dos tubarões aqui na costa de Pernambuco, mas precisamos compreender de onde eles vêm, para onde eles vão. Compreendendo melhor os tubarões, vamos poder elaborar melhor medidas mitigadoras para lidar com a situação”, destaca o pesquisador.

Os trabalhos do barco Sinuelo, do Instituto Oceanário, seguem normalmente na orla do Grande Recife, monitorando os tubarões que se aproximam da costa. “São dois trabalhos distintos. Hipoteticamente, se constatarmos nessa pesquisa com a Ocearch que há melhor localização para colocação dos espinhéis, nos podemos trabalhar a questão”, aponta Hazin.

Tubarões são capturados e levados para a plataforma no navio. (Foto: R. Snow / Ocearch / Divulgação)
Tubarões são capturados e levados para a plataforma no navio. (Foto: R. Snow / Ocearch / Divulgação)

Captura e tecnologia
A diferença do trabalho desenvolvido pela Ocearch e o já existente na costa do Grande Recife, feita pelo Instituto Oceanário, começa com a tecnologia e a forma de captura dos animas. Enquanto o Sinuelo utiliza de espinhéis e os animais podem ficar até horas presos antes de serem libertados, a expedição trabalha com lanchas, que capturam um a um os animais com um anzol especial e só então eles são levados para a plataforma.

Depois de capturados, os tubarões são liberados em um tempo médio de 15 minutos. Nesse período, são retiradas amostras de sangue e de parasitas, além de alguns exames, que vão compor as pesquisas. Além disso, os animais vão receber marcas, que permitem a localização posterior deles, depois de soltos.

As marcas utilizadas atualmente no estado ficam em média seis meses nos animais, ao passo que as que serão colocadas agora ficam cinco anos. O acompanhamento dos tubarões vai poder ser feito em tempo real, tanto por pesquisadores quanto pela população, através do site da organização. “É muito importante para nós que as pessoas se sintam parte do projeto, se sintam dentro da expedição”, destaca Fischer.

Tubarões são capturados com anzol especial. (Foto: Divulgação / Ocearch)
Tubarões são capturados com anzol especial. (Foto: Divulgação / Ocearch)

Essa é a 20ª expedição da equipe americana. A Ocearch já marcou cerca de 200 tubarões em todo o mundo, registrando apenas uma morte de animal. “Isso nos ensinou muito sobre como pegar os animais, onde colocá-los, qual o procedimento. Nós não sedamos os tubarões, colocamos uma toalha negra sobre os olhos deles, isso os calma e permite que trabalhemos”, explica Fischer.

A expedição na costa brasileira foi orçada em U$ 700 mil. Para Hazin, essa é uma oportunidade única. “A partir do momento que compreendemos o comportamento do tubarão-tigre aqui, entendemos como funciona em todo o país. Acreditamos que eles vêm da foz do [rio] São Francisco, vamos poder verificar onde nascem”, exemplifica o pesquisador.

Futuro
Para quem frequenta as praias pernambucanas, o efeito da pesquisa não é sentido de maneira imediata. A longo prazo, a partir dos estudos do comportamento dos tubarões-tigre, é possível entender até onde eles chegam e assim elaborar políticas de convivência mais eficazes, com restrição de banho e prática de surfe apenas nas áreas de risco.

Para Fischer, esse conhecimento é essencial para a preservação dos oceanos. “O medo é algo que afasta as pessoas. É preciso que elas compreendam e frequentem a praia. Quando você faz parte de algo, você luta para preservar. Se você não vai, não liga”, aponta o líder da expedição.

Fonte: G1

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