Naufragado em 15 dezembro de 1991 – com pelo menos 470 mortos, o Salem Express, um navio de bandeira egípcia é um dos naufrágios mais controversos do mar vermelho, até hoje se discute se mergulhadores recreativos devem ou não visitar esse ponto que é considerado um grande túmulo para as vítimas que ali perderam suas vidas.

Originalmente construído nos estaleiros franceses de La Seyne, em 1964 e conhecido por vários nomes diferentes ao longo da sua vida, o Salem Express era um ferry boat de 100 metros de comprimento e 18 de largura que possuía uma rampa de embarque de veículos em seu nariz, estava baseado no porto de Safaga, no Egito, e na noite de 15 dezembro de 1991, estava retornando de Jeddah, Arábia Saudita, quando naufragou em aguas egipcias próximo ao porto de Safaga.

Seus passageiros eram em sua maioria peregrinos retornando de santa-Hajj em Meca, empresários e trabalhadores egipcios que retornavam para visistar a família. O Navio estava sob o comando do Capitão Hassan Moro que era bem experiente e conhecia muito bem a região e que naquela noite tomou a decisão de usar um atalho por entre os rasos recifes de Hyndman com a intenção de reduzir o tempo de viagem em algumas horas.

Infelizmente, nesta ocasião, ocorreu uma tempestade inesperada, com fortes ventos e ondas que causaram o acidente, jogando a proa do navio com força surpreendente contra os Recifes Hyndman rasgando seu casco e forçando a abertura da rampa de carga frontal o que causou a inundação imediata do compartimento de carga.

O navio teria afundado muito rápido, cerca de 10-20 minutos após bater no recife, o que impediu uma evacuação ordenada usando os botes salva-vidas, e que resultou na morte de mais de 470 passageiros, com apenas 180 sobreviventes.
O mergulho:
O navio repousa entre 12 e 30 metros de profundidade e encontra-se inteiro e com pouca cobertura de corais, imensos cardumes, barracudas e peixes coloridos diversos habitam o entorno e o interior do naufrágio, tornando a vista desse imenso tumulo um pouco menos fúnebre, confesso que foi um dos naufrágios mais sombrios que já visitei, creio que em parte pela história trágica de seu afundamento e a quantidade de vítimas que ali perderam suas vidas, apesar da agua clara e da boa visibilidade a visão do navio causa um impacto tremendo, encontra-se deitado de lado no fundo arenoso, como um imenso gigante adormecido.

Descemos pelo cabo logo acima da ponte de comando, avistando a proa inteira e todo o casário. Nosso planejamento prévio era descer por dentro da cabine de comando e seguir pelo convés tombado até o helice, nesse trajeto passamos pelos botes-salva vidas que ainda se encontram presos as gruas que deveriam ter sido baixados e usados no resgate das vítimas, esse trajeto é forrado de objetos pessoais espalhados pelo fundo, subimos pelo helice e adentramos no corredor lateral procurando a entrada para o restaurante do navio, nosso próximo destino a ser explorado seguindo nosso planejamento.

Entramos por uma janela quebrada e começamos a explorar o interior do navio, diversos escombros e restos de mesas espalhados pelo interior do refeitório, fiquei imaginando minutos antes da tragédia as pessoas ali sentadas anciosas pela chegada que estava tão próxima e agora tão distante ao porto de Safaga, as luzes da costa já eram visíveis daquela posição tornando a certeza de uma chegada segura quase que tangível, isso nos faz refletir profundamente sobre a brevidade e inconstância da vida, em um momento sentados calmos e relaxados e no segundo seguinte, o caos instalado, e uma multidão tentando evacuar o barco em busca da salvação.

Mergulhos em naufrágios históricos são sempre emocionantes, para quem gosta e aprecia este tipo de mergulho é impossível comparar a sensação de visistar um naufrágio artificial, onde tudo foi planejado e “fabricado” no intuito de criar uma atmosfera de aventura para o mergulhador, e um naufrágio real, onde além da vida agregada e do recife criado, o valor emocional e histórico torna o mergulho muito mais vibrante e interessante, desde a pesquisa histórica até o planejamento dos mergulhos com objetivos definidos de se chegar até alguma parte específica do navio e poder reconstruir ou recuperar algum detalhe que ajude a desvendar o quera cabeças do afundamento e suas causas.

Olhei para meu dupla, amigo e companheiro de tantos mergulhos e percebi que ele também estava pensativo e tocado pela atmosfera do ambiente, seguimos para fora do navio e rumamos para a proa para fazer uma foto da ancora e seguir para o cabo onde iniciamos nossa parada de segurança.
É possível realizar um outro perfil de mergulho e explorar os porões do navio, é um mergulho mais complicado e requer experiência, pois existe apenas uma entrada e uma saída e todo o mergulho é feito sem luz natural, um exelente controle de flutuabilidade e treinamento apropriado para esse tipo de penetração são obrigatórios. Nos porões é possível avistar carros e outros entulhos como televisores, radios, bicicletas e toda a sorte de objetos pessoais que se encontravam armazenados ali.

2 Mergulhos no Salem são o ideal para connhecer o naufrágio de forma mais completa, para quem não sabe ou não se sente confiante em penetrar nas areas internas do navio seu exterior é riquissímo em vida e detalhes interessantes que merecem ser explorados.
O navio pode ser visitado a partir de uma operação de praia ou abordo de um live aboard, consulte os destinos e roteiros de liveaboards da região para saber se o Salem faz parte de seu intinerário.
Sou apaixonado por esses mergulhos mesmo não sabendo mergulhar e até nadar. Mas, muito interessante essa visita ao Salem Express. Só tenho curiosidade em saber sobre as vítimas que soube que foi quase 500. Saber se forem retiradas ou foram desintegrando-se.