São Paulo – A analista ambiental Kelen Leite, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), foi afastada da gestão da Estação Ecológica (Esec) Tupinambás no início desta semana, após 3 anos e seis meses no cargo. Muito elogiada na comunidade ambientalista, Kelen estava à frente das negociações com a Marinha para acabar com os treinos de tiro no Arquipélago dos Alcatrazes, um dos principais refúgios de biodiversidade insular e do mar na costa brasileira, no litoral norte de São Paulo.
A Esec Tupinambás cobre partes do arquipélago, mas não a ilha principal, que a Marinha usa há décadas como alvo para treinos de tiro. Em junho, após longas negociações, a Força anunciou, publicamente, que concordava em parar de atirar na ilha e que apoiava a transformação de quase todo o arquipélago num parque nacional marinho. O projeto de criação do parque está submetido ao Ministério do Meio Ambiente (MMA).
O afastamento dela, publicado terça-feira, 10, no Diário Oficial da União (DOU), pegou a gestora de surpresa. “Não pedi para sair e não gostaria de sair”, disse, por telefone. “É muito ruim sair assim, no meio de um trabalho”, completou, referindo-se não só ao processo de criação do parque nacional como o de elaboração do plano de manejo da Esec Tupinambás, que foi recentemente concluído, 26 anos após a criação da unidade. O plano está praticamente pronto, faltando a aprovação do ICMBio.
O afastamento também pegou de surpresa a comunidade ambientalista e os integrantes do Conselho Gestor da Esec, que não foram consultados pelo ICMBio sobre a mudança, de acordo com o coordenador do Projeto Alcatrazes e um dos maiores conhecedores e defensores do arquipélago, Fausto Pires de Campos. “O Conselho Gestor foi profundamente ofendido, pois não foi consultado para esta mudança drástica, contraproducente e completamente equivocada”, afirma, num e-mail endereçado a Kelen e distribuído para a comunidade ambientalista e científica ligada ao arquipélago.
“Seu trabalho é excelente e admirável e resolvem trocar a chefia? Algo está muito estranho e errado e penso que Alcatrazes volta a correr imenso risco, não importando quem coloquem na Esec; o sinal de retrocesso está dado e temos de voltar a lutar duro pela preservação de Alcatrazes.” A publicação no DOU não aponta um substituto para a gestão da Esec.
Fonte: UOL
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