Naufrágio foi localizado mais de 300 anos após seu afundamento, com carga de ouro, prata e esmeraldas estimada em US$ 17 bilhões
Foi confirmada a descoberta do galeão espanhol San José, afundado em 1708, no Mar do Caribe, próximo a Cartagena, costa da Colômbia. Durante séculos, gerações de marinheiros, caçadores de tesouros e mergulhadores sonharam com as inúmeras riquezas de ouro, prata e joias enterradas com o mais valioso naufrágio do mundo.
Os destroços foram inicialmente detectados no final de 2015, pelo veículo submarino autônomo (AUV) Remus 6000 – o mesmo utilizado para encontrar o Airbus A330 do voo 447 Air France, que caiu em 2009 nos arredores do arquipélago de São Pedro e São Paulo. A expedição foi realizada pelo Instituto Oceanográfico Woods Hole (WHOI), dos Estados Unidos, responsável pela descoberta do Titanic, em 1985, em parceria com o Instituto Colombiano de Antropologia e História (ICANH).
O San José foi localizado a mais de 600 metros de profundidade, na Península de Baru, a sudoeste de Cartagena. Boa parte dos destroços estão abaixo do leito submarino, enterrados, e não há vestígios da proa, que provavelmente foi destruída no afundamento.

“Mantivemos o segredo em respeito ao governo colombiano”, afirmou o vice-presidente da WHOI, Rob Munier. Por que a necessidade de tal sigilo? O valor da carga do navio pode chegar a US$ 17 bilhões – e há uma longa disputa legal a respeito dos diretos sobre o San José.
A WHOI começou a pesquisar a área em junho de 2015. Os primeiros mergulhos não tiveram sucesso, mas retornaram em novembro do mesmo ano. Vitória: os primeiros sinais do naufrágio, a partir de imagens de varredura “side scan” do sonar.
“Com os fortes retornos de sinal do sonar, enviamos novamente o REMUS para um olhar mais atento e para coletar imagens com suas câmeras. Os destroços estavam cobertos por sedimentos mas fotografias tiradas apenas 9 metros acima dos destroços já identificaram os canhões da embarcação”, lembra Mike Purcell, líder de expedição.
Nas imersões seguintes, foram sendo descobertos detalhes como golfinhos esculpidos no bronze dos canhões – sinal revelador, que confirmava se tratar do San José –, xícaras, objetos de cerâmica e vidro, ânforas, porcelana chinesa, vasos peruanos e outros artefatos espalhados pelo fundo do mar.
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O San José afundou em 8 de junho de 1708, no episódio conhecido como Wager’s Action: a esquadra britânica, liderada por Charles Wager, atacou a “frota da prata” (navios que levavam à Espanha riquezas como metais, pedras preciosas, especiarias, tabaco e outros produtos “exóticos” das colônias na América Latina), para impedir o financiamento da Guerra de Sucessão Espanhola.
Equipado com 62 armas e um arsenal significativo de pólvora, o galeão explodiu em chamas ao ser atacado sem trégua pelo navio de guerra britânico Expedition. Somente 11 dos cerca de 600 passageiros sobreviveram à explosão e afundamento. O resto foi a fundo com uma gigantesca carga de ouro, prata e esmeraldas tiradas das colônias espanholas, estimada em 11 milhões da época.

Séculos mais tarde, na década de 1980, um consórcio de resgate marítimo norte-americano chamado Sea Search Armada (SSA) alegou ter localizado o naufrágio, mas a Colômbia se recusou a conceder permissão para salvatagem e negou os direitos da empresa sobre as riquezas, uma vez que estão em águas colombianas. Desde então, a SSA tem legalmente requisitado 50% sobre os achados. E o governo da Espanha também pode reivindicar seu direito ao tesouro perdido – afinal, o San José navegava sob a bandeira espanhola quando afundou.
Alguns especialistas afirmam que, uma vez que grande parte da riqueza a bordo do navio resultou da conquista das Américas, ela não deveria deixar a Colômbia. Outros, com base em argumentos históricos, dizem que mais nações podem ter direito a uma parte do tesouro, como França (aliada da Espanha da Guerra de Sucessão) e Holanda e Inglaterra (como parte dos acordos de paz).
Com essas disputas em mente, a Unesco pediu à Colômbia para não explorar comercialmente o naufrágio e a herança cultural que ele representa, guardando parte da história dos séculos XVII e XVIII. Até agora, o governo colombiano manteve a localização exata do San José em segredo – não esclareceu nem se é o mesmo local que a SSA encontrou décadas atrás – e garantiu que o naufrágio não foi saqueado. Ainda não há uma palavra oficial sobre as riquezas que já foram localizadas e quando ou como esses objetos serão recuperados.
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