No dia 06.10 (domingo) quatro mergulhadores experientes, saíram do Cabanga Iate Clube, no Recife, para realizar um mergulho técnico com Rebreather. O grupo seguiu para o naufrágio Corveta Camaquã, localizado a aproximadamente 37 quilômetros da costa, na posição relativa à Coroa do Avião, no município de Itamaracá.
Segundo o médico cirurgião Allan Filgueira que estava no grupo, o mergulho aconteceu normalmente sem nenhum problema, mas na hora que eles voltaram para a superfície perceberam que o barco estava distante.

O incidente ocorreu na tarde de domingo (6) e só foram localizados na madrugada da segunda-feira (7), na região Metropolitana do Recife.
O grupo conta que ficaram mais de 13 horas á deriva em alto mar, até serem resgatados.
O grupo já estava acostumado a fazer esse tipo de mergulho técnico, um deles tem 20 anos de experiencia. O Corveta Camaquã fica a 56 metros de profundidade.

Em uma entrevista para a DiveMag o médico Allan Filgueira relatou o ocorrido:
Porque o grupo ficou á deriva?
“Ainda não tive a oportunidade de conversar com toda a equipe de apoio do barco. A principal hipótese é que apesar do cabo longo e das boias grandes, a corrente submergiu as boias de marcação e o barco perdeu as boias de visão. Quando finalizamos o tempo de fundo e soltamos o cabo do naufrágio, a âncora do cabo começou a correr, a resistência da corrente diminuiu e nesse momento as boias subiram, porém, o barco não visualizou mais as boias. Com a corrente, nós derivamos muito nessa 1:30hr de descompressão e percebemos que o barco não passava por cima marcando nossa posição. Quando finalizamos a descompressão, tínhamos visão do barco, muito longe. Porém o barco não viu a gente, mesmo com as deco marker infladas”
Quando você percebeu que estava à deriva, qual foi sua maior preocupação?
“Decidimos cortar o cabo para derivar mais rápido para a terra e nesse momento a maior preocupação era saber se estávamos de fato nos aproximando da terra. Tudo indicava que sim, a corrente estava noroeste, nos levando em direção à Paraíba, mas não tínhamos certeza. Um dos mergulhadores teve uma brilhante idéia: aguardar 2 hs de deriva e mergulhar antes do anoitecer (tudo ficaria mais complexo à noite) para ver a profundidade que estávamos. Se fosse mais raso, estaríamos nos aproximando da terra. Se fosse mais fundo… bem, a gente não queria nem pensar nessa hipótese. Felizmente ele retornou com as boas novas: tínhamos saído dos 56 mts da Camaquã para 50 mts. Logo em seguida começou a 2ª maior preocupação que era os nossos familiares. Como eles reagiriam sem saber se estávamos vivos ou mortos?”
Teve algum momento que o grupo entrou em pânico?
“Graças a Deus os quatro são muito tranquilos, ninguém entrou em pânico em momento nenhum, ninguém falou em morte ou nada negativo. A gente até brincou que passamos muitas horas a noite, até 1:30 da manhã à deriva, e nesse tempo ninguém citou a palavra tubarão, porque naquela região existe tubarão da espécie cabeça chata e tubarão tigre, já teve relato de ataques, mas ninguém falou nada. Evitamos falar de coisas ruins, inclusive em muito momento ficamos contando piadas tentando manter o bom humor.
Realmente ficamos muito tempo dentro da água, 13:00 horas, então tínhamos que passar o tempo de alguma forma, então conversamos muito, nadamos muito para ganhar tempo, porque a corrente levava meio a noroeste então a gente percebeu que não estávamos indo direto para terra, a gente ia derivando em outra direção, e por esses motivos batemos muita perna para ganhar tempo. Pânico mesmo não ficamos não, a gente até se impressionou como ficamos calmos com a situação.”
Quando foi resgatado você tinha noção que ficou 13 horas desaparecido?
“Em relação ao tempo, a gente sabia exatamente quanto tempo estávamos á deriva, porque os computadores de mergulho que a gente usava, marcam a hora. Então estávamos o tempo todo marcando o tempo, inclusive usamos eles para fazer os turnos de nados, começamos nadando por 20 minutos e descansando por 5 minutos, depois começamos a nadar 10 minutos e descansando 5 minutos, e por fim quando ficamos muito cansados estávamos nadando 5 minutos e descasando 5 minutos. Então a gente tinha noção do tempo, o tempo todo.”
Quando viu que o barco não estava lá o que passou pela sua cabeça?
“Quando vimos que o barco não estava mais lá, foi uma coisa gradativa.
A gente foi percebendo o perigo da situação passo a passo, não foi um choque. Porque se a gente tivesse subido e não tivesse visto o barco realmente o choque teria sido maior, mas a gente subiu e vimos o barco, estava muito longe por causa das ondas, a gente estava boiando e ele não conseguiu ver a gente. Mas mesmo assim a gente tinha esperança que o barco avistasse a gente.
A nossa preocupação iniciou-se na descompressão, a gente olha para cima e não via o barco passando, então começando a ficar preocupado ali. Quando o primeiro mergulhador Evandro termino a descompressão, ele subiu viu o barco e deu ok pra gente confirmando que o barco estava lá. Então todos nós ficamos mais tranquilos, estávamos sem entender o porque o barco não estava no local.
Quando terminamos a descompressão, que subimos a gente entendeu a situação, o barco estava de fato lá, por isso que ele deu sinal de ok, mas estava muito longe. Ficamos lá com a esperança que iria avistar a gente.
Então começamos a ver o barco cada vez mais longe, ou seja a correnteza estava levando a gente para outra direção.
O momento de mais tensão entre a gente foi quando tivemos que decidir em ser arrastado pela correnteza devagar ou corta o cabo e ser arrastado mais rápido em direção a terra.
Nesse momento percebemos que teríamos que nós salvar de qualquer jeito. A sensação que nós sentimos foi de impotência porque conseguimos ver o barco mais o barco não nós via.”
Se esse ocorrido acontece-se com algum mergulhador, qual conselho você daria?
“Minha primeira recomendação é manter a calma, porque na água o pânico pode levar a fatalidade muito rápido, a tranquilidade é fundamental para quem tem contato com a água. Segundo lugar se manter sempre unido com o grupo, se o grupo tivesse dessumido iria piorar muito a situação. Sozinho você não tem o mesmo animo, então um sempre está apoiando o outro.
Se eu estivesse em uma situação dessa sozinho, iria complicar muito a situação, em grupo pensamos melhor.
Você tem que focar nas possibilidades do que pode ser feito, porque não adianta ficar pensando no que poderia ter sido feito para evitar aquilo, porque o fato já aconteceu.
E nessa situação focar sempre em uma solução e não no problema.”
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