Cetáceos de uma mesma espécie usam dialetos diferentes para se comunicar

Cachalotes emitem sons para se comunicar nas Ilhas Galápagos (Foto: Mauricio Cantor/ Whitehead Lab/ Dalhousie University, Canada)
Cachalotes emitem sons para se comunicar nas Ilhas Galápagos (Foto: Mauricio Cantor/ Whitehead Lab/ Dalhousie University, Canada)

Os cachalotes, os maiores entre os cetáceos com dentes, usam diferentes dialetos de acordo com o grupo de animais a que pertencem, um sinal da existência de uma cultura entre as baleias – é o que sugere um estudo publicado nesta terça-feira na revista “Nature Communications”.

Os especialistas se perguntam há muito tempo se existem, nas sociedades animais, processos similares aos que formam as bases das culturas humanas, incluindo a capacidade de aprender com os outros.

A noção de cultura animal é muito controversa. Segundo alguns pesquisadores, a cultura – definida basicamente como uma forma de aprendizagem social que gera uma distinção entre os grupos – só existe no ser humano e é justamente o que o diferencia do animal.

Segundo o pesquisador brasileiro Maurício Cantor, da Universidade Dalhousie no Canadá e co-autor do estudo, tudo depende do que é entendido como “cultura”. “Na nossa pesquisa empregamos o termo ‘cultura’ no sentido amplo, como definição de um comportamento adquirido socialmente e compartilhado com um subconjunto da população”.

“Como nós, seres humanos, os animais podem descobrir coisas novas, aprender e copiar competências de outro indivíduo e passar esta informação de geração em geração”, explicou Cantor. “A ideia de existência de uma cultura animal ganhou terreno durante os 10 ou 20 últimos anos”.

Para este estudo, os pesquisadores compararam os sons emitidos pelos cachalotes e seus comportamentos sociais, combinando dados recolhidos ao longo de mais de 18 anos e simulações informáticas. Isso permitiu rastrear a vida e a evolução de vários grupos de cachalotes.

Segundo Cantor, os estudos revelam que os diferentes dialetos só podem evoluir quando os cachalotes aprendem com seus pares os sons que emitem. Nem o azar nem a genética podem explicar por si mesmos a existência de grupos que empregam línguas diferentes.

“Nossos resultados reforçam a hipótese de que as principais características da cultura humana (como a aprendizagem social) podem se encontrar em populações animais”, concluiu o brasileiro.

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