Plástico causa dano de US$ 13 bi à vida marinha, diz estudo

Dado consta de dois estudos divulgados ontem, no primeiro dia da Assembleia Ambiental das Nações Unidas, no Quênia
Dado consta de dois estudos divulgados ontem, no primeiro dia da Assembleia Ambiental das Nações Unidas, no Quênia
Pesquisadores estimaram um valor para os danos que plásticos causam à vida marinha: cerca de US$ 13 bilhões ao ano.  O dado consta de dois estudos divulgados ontem, no primeiro dia da Assembleia Ambiental das Nações Unidas (Unea, em inglês), que acontece esta semana em Nairóbi.

A cifra considera apenas o consumo pessoal de itens de plástico.  Foram estudados 16 setores – desde embalagens de produtos de limpeza, cosméticos, alimentos e bebidas até o plástico existente em brinquedos, eletrônicos e roupas.  O estudo não avaliou o uso de plásticos em obras de infraestrutura, aviões ou hospitais, por exemplo.

“Valuing Plastic” teve apoio do Programa das Nações Unidas para Meio Ambiente (Pnuma), que sedia a grande conferência ambiental no Quênia.  O trabalho foi feito por duas organizações independentes, o Plastic Disclosure Project (PDP) e Trucost.

O custo total do uso do plástico sobre a natureza é de US$ 75 bilhões ao ano, considerando-se apenas a indústria de produtos para consumo pessoal.  A análise, pioneira, levou em conta de impactos como emissões de gases-estufa (desde a extração do combustível fóssil) à poluição provocada pela incineração de resíduos, além da perda de biodiversidade marinha, prejuízos ao turismo e ao transporte marítimo.  O maior impacto, segundo os pesquisadores, acontece no mar. “Embora este valor seja impressionante, US$ 13 bilhões ao ano, consideramos que está subestimado”, disse o engenheiro Andrew Russel, diretor do PDP.

“Não estamos pregando um mundo sem plástico.  Mas perdemos a noção de seu impacto no ambiente.  Usamos, sem preocupação, quantidades enormes e desnecessárias”, disse Achim Steiner, diretor-executivo do Pnuma e subsecretário-geral da ONU.  “Em alguns casos, estamos convivendo com produtos desenvolvidos há mais de cem anos.  Somos frequentemente vítimas de quem nos vende tecnologia velha e nos deixa sem opção.”

Cerca de 80% do lixo que chega aos oceanos têm origem em atividades terrestres.  O restante são cargas perdidas por navios, resíduos de plataformas de petróleo ou de criação de peixes em cativeiro, por exemplo.  “Há muita tecnologia e inovação disponíveis para limpar áreas contaminadas nos mares, mas esta não é a questão”, disse Jacqueline McGlade, cientista-chefe do Pnuma.  “O ponto é que simplesmente não deveríamos estar colocando plástico ali.”

Ela lembrou que a Irlanda eliminou o uso de sacolas plásticas com facilidade.  Nos Estados Unidos, os estados de Illinois, Califórnia e Nova York estão banindo o uso de microplásticos – usados em cosméticos e que, de tão pequenos, vão direto para os oceanos, causando danos imprevisíveis.  “Em 10 anos poderemos ter leis e iniciativas em relação à poluição dos oceanos”, disse McGlade.  “Mas, francamente, não sei quando conseguiremos tirar todas estas coisas dos mares se continuarmos a colocar lixo ali.”

Um estudo do Pnuma também divulgado ontem recomenda que as empresas monitorem seu uso de plástico e publiquem os dados em relatórios anuais.  Diz também que as indústrias deveriam se comprometer com metas de reciclagem.  Campanhas educativas devem ser promovidas para evitar que os plásticos cheguem aos oceanos.

Fonte:  24/06/2014 – Valor Online – Por Daniela Chiaretti | De Nairóbi, Quênia

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