Um vulcão submerso em erupção no sul da Espanha está afetando drasticamente a vida de moradores de uma ilha nas Canárias.
“(O vulcão) está nervoso hoje. Veja como ele está!”, diz o pescador Elio Morales Rodríguez, da aldeia de La Restinga, na costa sul da ilha El Hierro.
“A mancha verde na água é uma zona morta”, ele agrega, olhando em direção ao mar. “Está matando tudo. Não há pescaria, escolas de mergulho, turismo – só peixes mortos na superfície.”
O vulcão submerso está em erupção há mais de um mês, 5 km ao sul de El Hierro, a menor das sete ilhas das Canárias. De cerca de 60 metros abaixo do nível do mar, o vulcão está expelindo gases e lava quente, e parte disso está chegando à superfície marinha.
O fenômeno natural, um espetáculo cheio de cores; atraiu atenção da mídia, mas afastou os turistas. A jornalista local Barbara Belt diz que os moradores da região não sabem quando o burburinho ao redor do caso acabará e quando eles poderão retomar sua rotina.
Em La Restinga, muitos bares, restaurantes e hotéis estão fechados, e muitos habitantes abandonaram a aldeia.
Tremores
Cientistas explicam que a erupção é parte de uma evolução vulcânica de longo prazo nas Ilhas Canárias, o que pode resultar em uma nova ilha, ou adicionar novos pedaços de terra ao sul da costa de El Hierro.
“Tem havido uma grande atividade sísmica ao redor da ilha”, diz Nemesio Perez, coordenador científico do Instituto de Vulcanologia das Ilhas Canárias, o Involcán. “Na costa sul, o magma chegou à superfície. A dúvida é se isso também acontecerá na costa norte também.”
Nos últimos quatro meses, o Involcán detectou mais de 11 mil tremores pela ilha El Hierro, um dos quais medindo 4.6 na escala Richter – forte o suficiente para ser sentido em duas ilhas ao norte (La Gomera e Tenerife). Um morador de El Hierro disse que o tremor parecia um “choque elétrico”; outro descreveu o barulho como um “rugido profundo”.
A maioria dos tremores em El Hierro passa despercebida dos 10 mil habitantes locais, mas alguns são poderosos o suficiente para causar nervosismo.
“Os moradores estão com suas malas prontas na porta de casa, com roupas, bateria de rádio, lanterna, cobertores e comida”, conta Barbara Belt.
Ao norte da ilha, em uma área chamada La Frontera, uma professora chamada Carmen diz estar usando jogos para estimular as crianças a entender os procedimentos de emergência. “Quando assopro o apito, (as crianças) correm para debaixo da mesa o mais rápido possível. Cantamos canções até que tudo esteja terminado, daí elas formam uma fila, segurando uma corda, para sair da sala”, conta.
‘Dramatização’
A rotina dos moradores de El Hierro foi abalada também pelo fechamento temporário de um túnel de grande circulação, além da interdição de casas que ficam em áreas potencialmente perigosas.
Para alguns, o pior tem sido o impacto do fenômeno natural sobre o turismo.
“A TV e os jornais dramatizam tudo”, diz Máximo Rodríguez, conversando em um bar quase vazio em La Restinga. “Isso assusta as pessoas. Elas têm que vir pra cá. Quando é que você tem a oportunidade de testemunhar algo como isso (a erupção)?”, defende ele.
Ao norte da ilha, em La Frontera, os proprietários do bar Tasca La Cantina, José Antonio Padrón Perez, e sua mulher, María Fonte Armas, também se queixam.
“Recebemos (visitantes) do norte da Europa durante a estação de inverno. (Mas) todos cancelaram. A vida não é tão dramática quanto diz a imprensa. Estamos todos cientes da atividade vulcânica. Estas são ilhas vulcânicas!”
“”A TV e os jornais dramatizam tudo. Isso assusta as pessoas. Elas têm que vir pra cá. Quando é que você tem a oportunidade de testemunhar algo como isso (a erupção)?”
Máximo Rodríguez, morador de La Restinga
El Hierro é a mais vulcânica das Ilhas Canárias, e talvez por isso os moradores não estejam temerosos. A professora Carmen diz que seus alunos pintam os vulcões como algo colorido e divertido, e não como um fenômeno sinistro.
Joachim Gottsmann, vulcanologista na Universidade de Bristol (Grã-Bretanha), que lidera uma comissão europeia de estudos vulcânicos, explica que não há perspectivas claras de uma nuvem de fumaça – a exemplo da que se formou na Islândia no passado – se desenvolvendo nas Canárias.
“Até agora, a erupção ao sul de El Hierro é basicamente submarina”, diz ele, acrescentando, porém, que isso pode mudar de uma hora para outra.
Sendo assim, uma nuvem de incertezas de fato paira sobre os moradores das Canárias. Eles bem que gostariam que a nuvem se dissipasse – ou, ao menos, que os turistas fossem para lá para ver com seus próprios olhos a atividade vulcânica.
O programa ‘The World’ é uma coprodução do Serviço Mundial da BBC, da Public Radio International (PRI) e da WGBH, em Boston
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