O encontro das águas da Lagoa dos Patos com as do Oceano Atlântico, em Rio Grande, na Região Sul do Rio Grande do Sul, tornou-se um território sagrado para diversas espécies. É nesta região que vive um grupo de cerca de 90 golfinhos. Também chamados de botos, desde 1974 eles são identificados e monitorados por pesquisadores da Universidade Federal de Rio Grande (Furg), que tentam preservar a espécie, como mostra a reportagem do Jornal do Almoço, da RBS TV.
O projeto Botos da Lagoa envolve biólogos, oceanógrafos e alunos da universidade. Desde 2005, o trabalho é feito ate três vezes a cada mês. Trata-se de um grande esforço para ajudar na preservação da espécie conhecida como nariz-de-garrafa.
Os animais parecem pequenos quando vistos de longe, mas podem chegar a quatro metros de comprimento e pesar até 300 quilos. O oceanógrafo Rodrigo Cesar Genoves é um dos participantes do projeto e, desde 2004, percorre o local monitorando a vida e os hábitos de espécie.
“Nosso intuito é sempre monitorar porque é uma região de alto impacto. Há um grande tráfego de navios e muitas indústrias associadas à área costeira. Monitorando esses animais, podemos usá-los como um fator de proteção, porque são animais carismáticos. Então, utilizando esses indivíduos, podemos proteger todo esse ambiente de uma maneira fácil”, explica Genoves.
O estuário oferece aos golfinhos fartura de alimentos, mas também uma grande ameaça: as redes de pesca. “A população que reside no estuário se mantém constante ao longo dos anos. Nós estimamos por volta de 84 indivíduos. Porém, muitas mortes têm ocorrido devido à pesca. Algumas também por mortalidade natural. Isso tem nos preocupado bastante nos últimos anos”, acrescenta o oceanógrafo.
O principal objetivo do monitoramento é a contagem de animais, mas outros dados importantes são coletados, como as marcas nas nadadeiras dorsais, que funcionam como uma identidade de cada mamífero. Vento, frio e o movimento rápido dos golfinhos exigem habilidade e um olhar muito atento dos pesquisadores.
É no laboratório do Museu Oceanográfico da Furg que as imagens coletadas em campo são analisadas. Um dos golfinhos observados tem uma marca bem específica causada por redes de pesca. É um velho conhecido dos pesquisadores. “A parte da frente da dorsal do animal ficou presa. Ele continuou nadando e foi cortando”, explica Genoves.
Entretanto, a área não oferece apenas ameaças. Dos 15 quilômetros quadrados em que os botos transitam, pelo menos 10 km são preservados por lei. É a Unidade de Conservação Refúgio da Vida Silvestre, onde os golfinhos dividem espaço com outros moradores. Localizado nos molhes da cidade de São José do Norte, na divisa com Rio Grande, o espaço é um santuário de espécies marinhas.
O coordenador do Museu Oceanográfico de Rio Grande, Lauro Barcellos, acompanha há 40 anos uma realidade que muda lentamente. “Hoje nós temos um espaço onde esses animais podem descansar e cumprir os seus ciclos de vida. Os botos já têm um lugar bastante protegido, em que não é permitida a colocação de redes, porque, como se sabe, elas têm dizimado muito a população dos mamíferos marinhos, não só aqui nessa região, mas no mundo inteiro”, diz o oceanógrafo e coordenador.
Para os especialistas que dedicam a vida à preservação dos golfinhos e de outras espécies marinhas, a consciência da população é uma aliada fundamental. “Nós precisamos permitir que os botos consigam viver, precisamos que os peixes continuem existindo, precisamos que os leões marinhos continuem descansando, porque tudo isso está relacionado com a nossa sobrevivência. Enquanto isso não estiver claro, enquanto isso não for assumido como um compromisso de cada cidadão, teremos sempre dificuldades enormes pra que a vida se perpetue para as próximas gerações”, conclui Lauro Barcellos.
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