Uma empresa portuguesa quer resgatar o glorioso passado marítimo do país não com naus, mas com robôs. A start-up Azorean se prepara para lançar em 2014 o primeiro drone aquático do mundo voltado para o consumidor comum. Controlado remotamente por aplicativos de celular, o Ziphius desliza na superfície da água a uma distância de até cem metros do dono via Wi-Fi, capturando fotos e vídeos em alta definição. O aparelho inaugura o segmento de entretenimento no bilionário mercado de veículos robóticos marinhos voltados para pesquisadores e ricaços aventureiros.
O produto vem sendo desenvolvido desde junho de 2012 e começará a ser vendido, sobretudo pela internet, no primeiro semestre do ano que vem (seria em março mas a companhia precisou atrasar o lançamento por dificuldades de fabricação). Os consumidores já têm demonstrado entusiasmo com a proposta: 472 internautas contribuíram com um total de US$ 127,3 mil para o projeto no badalado site de financiamento colaborativo Kickstarter. Na pré-venda, o drone está custando US$ 269, mas deve ficar mais caro quando o lançamento ocorrer.
Segundo a fabricante, o objetivo do gadget é mesmo entreter banhistas. Diferentemente de aparelhos como o da americana AquaBotix – que mergulha como um submarino, é poderoso, custa acima dos US$ 4 mil e exige perícia do operador – o Ziphius navega no nível da superfície aquática, carrega rol enxuto de hardware e sensores e pode ser controlado até por crianças em aplicativos para Android e iOS (iPhone e iPad).
O Ziphius tem duas pequenas hélices motorizadas no casco que impulsionam o drone a uma velocidade de até 10 quilômetros por hora. Na parte dianteira, uma câmera que captura até 30 imagens por segundo em alta definição (720p) é capaz de se movimentar 160 graus no eixo vertical e registrar imagens do que acontece acima e abaixo do robô. O equipamento também carrega na frente lâmpada LED para guiar seus movimentos. A bateria resiste uma hora.
Mas o diretor executivo da Azorean, Edmundo Nobre, garante que o hardware econômico não implica baixo desempenho. Segundo ele, a fabricante optou por plataformas de código aberto com maior custo-benefício. O computador embarcado é o Raspberry PI, conhecido como o mais barato do mundo (a partir de US$ 25). A placa é semelhante à Arduino, linha open source de baixo custo. De acordo com o executivo, a maior inspiração para a construção do Ziphius veio do acessível AR.Drone, popular quadricóptero da francesa Parrot.
Aparelho pode transportar latas de cerveja na piscina
A opção por vendê-lo como um gadget de entretenimento fica clara nos vídeos submetidos no Kickstater. O Ziphius é mostrado nas mãos de garotos à beira da piscina, manejado por grupos de amigos na areia da praia e acompanhado de surfistas à espera de ondas.
O design também foi pensado para isso. Atualmente, ele vem sendo produzido nas cores amarela e preta, mas a ideia é criar “roupagens” de diversas cores do plástico polipropileno expandido (EPP) que poderão substituir o amarelo ao gosto do usuário. Um dos formatos aventados viria com espaço para carregar no Ziphius latas de cerveja e refrigerante, transformando-o em uma espécie de garçom robótico da turma da piscina. No dorso do Ziphius, uma série de lâmpadas LED coloridas complementa a estética do dispositivo.
– Queríamos que o Ziphius suscitasse uma empatia instantânea com o usuário, que as pessoas vissem nele a forma de um bicho. Tem gente que diz que ele parece uma tartaruga, outras veem um pinguim. Queríamos que fosse visto como algo ‘fofinho’ – brincou Nobre, um especialista em realidade virtual que já foi cientista visitante no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês).
O nome Ziphius, aliás, é emprestado a uma criatura mítica dos mares europeus.
Outra função de entretenimento é o atalho que permite subir vídeos e fotos diretamente para redes sociais como YouTube, Facebook e Twitter. Mas os planos da Azorean vão além. A ideia é introduzir aplicativos que utilizem o drone em jogos de realidade aumentada. Nobre conta que ele poderia ser programado para perseguir uma bola vermelha na piscina ou ser transformado em um barco pirata.
Fabricante descarta problemas legais
Apesar de o segmento de drones aéreos despertar uma série de temores sobre riscos potenciais e carecer de regulamentação para uso civil, a Azorean descarta que o Ziphius enfrentará problemas parecidos. Edmundo Nobre afirma que, legalmente, o aparelho cai na categoria de barcos guiados por controle remoto, que já existe há tempos e não enfrenta muitos questionamentos das autoridades.
Embora o foco seja diversão, sugestões sobre outras finalidades para o Ziphius, como as feitas por pescadores (usá-lo para caçar peixes) e fotógrafos de natureza (se aproximar discretamente de animais marítimos), têm dado à empresa portuguesa ideias para seu projeto de longo prazo de exploração marítima. A Azorean é uma spin-off da lisboeta YDreams, especializada em interatividade e robótica mas sem experiência prévia com parafernália náutica. A nova companhia foi criada em Açores, região autônoma de Portugal cujo governo convidou o diretor executivo da YDreams, o açoriano António Câmara, a empreender em sua terra natal. Investir no oceano foi o caminho que pareceu mais adequado ao arquipélago que é Açores.
– Decidimos que o negócio estaria ligado à exploração das riquezas do mar português. Isso hoje é feito por meio de submarinos caros e complexos. Mas a combinação de comunidade open-source, ferramentas de financiamento colaborativo e aparelhos como impressoras 3D oferece a possibilidade de produzir rapidamente uma tecnologia nova a um custo estupidamente menor – explicou o diretor executivo da Azorean. – Nossa missão marítima é ousada, mas era preciso começar por algum lugar. O Ziphius, um gadget para diversão, é um primeiro passo.
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