Mergulhadores flagraram, no final da semana passada, um barco com três caçadores que tentavam pescar um peixe mero no mar de Arraial do Cabo (RJ). A espécie (Epinephilus Itajara) está criticamente ameaçada de extinção, segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN).
A pesca e comercialização do mero é proibida pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais) desde 2002. Quem desrespeitar a norma pode ser enquadrado na Lei de Crimes Ambientais, que prevê multa de R$ 700 a R$ 1 mil e pena de um a três anos de detenção.
O peixe de aproximadamente 2 metros e 250 quilos foi avistado no entorno da Pedra Vermelha, uma área próxima à costa. A caça submarina é proibida no local, dentro da Reserva Extrativista Marinha de Arraial do Cabo, o que constitui outro crime ambiental. Caso os pescadores fossem pegos, identificados, processados e punidos, suas penas seriam dobradas.
“Foi uma grande surpresa. Acho que, em 15 anos de mergulho aqui em Arraial do Cabo, tinha visto um peixe desses apenas uma vez”, conta o instrutor de mergulho Vagner Amstalden. Um arpão dos caçadores passou a cerca de um metro de seu corpo enquanto ele mergulhava ao lado do animal. Ele e seus alunos acabaram discutindo com os caçadores, que se afastaram.
Desde então, os mergulhadores têm realizado expedições diárias ao local para se certificar de que o mero permanece vivo. No próximo final de semana, o projeto Meros do Brasil, que realiza pesquisas científicas sobre a espécie no litoral de todo o país, pretende fazer a marcação do animal. Segundo os mergulhadores, o animal é vendido como garoupa no comércio de peixes e um exemplar daquele tamanho pode dar um lucro de cerca de R$ 4 mil.
“Mas com um bicho desses vivo a gente venderia milhões de pacotes de mergulho. Vale muito mais a pena preservá-lo”, garante Amstalden.w
“Há uma ameaça certa de que este outro animal avistado também seja capturado, pois ele tem sido visto em uma área muito próxima à costa”, afirma Maíra Borgonha, coordenadora técnica do projeto.
Segundo a oceanógrafa, este é um período crucial para a manutenção da espécie. Ela explica que os animais, apelidados de “senhores das pedras”, escolhem uma formação rochosa para viver e ficam ali a vida toda, saindo apenas para se reproduzir. Como são muito dóceis e nadam lentamente, acabam se tornando presas fáceis para os caçadores principalmente nesta parte do ano.
“O verão é a época que os meros se juntam para fazer a reprodução. Então eles passam a ser avistados com mais frequência. Os pescadores chegam a pensar que ele não está realmente em extinção e fazem a pesca. É um momento crucial”, explica a pesquisadora.
A chefe do ICMBio na reserva de Arraial do Cabo, Viviane Pacheco, foi informada pelos mergulhadores da identificação do exemplar do animal. Pacheco afirma que a sua equipe – um agente, um marinheiro e uma embarcação – tem feito fiscalização de rotina.
Em dezembro, o Ministério da Pesca lançou o Plano Nacional de Combate à Pesca Ilegal, “a maior operação no gênero já realizada na América Latina”. A ideia era promover, durante quatro meses, campanhas públicas de esclarecimento e operações de fiscalização, além da entrega de um “selo de pesca legal” aos proprietários de embarcações regulares. Durante este prazo ocorreriam, segundo o ministério, operações intensivas de fiscalização.
No entanto, o ICMBio afirma não ter recebido ainda nenhum reforço para fazer a fiscalização em Arraial do Cabo. “Infelizmente a gente não tem como fazer a proteção específica de uma espécie. Não temos estrutura para atender toda a demanda”, lamenta Pacheco.
O mero
Membro da família Serranidae, o mero é o maior dos seus representantes no Atlântico podendo chegar ao peso máximo de aproximadamente 455 kg e 3m de comprimento. Os meros são predadores situados em níveis superiores da cadeia trófica, alimentam-se principalmente de crustáceos, lagostas e caranguejos.
Adultos podem viver até 40 anos, mas por serem dóceis e grandes acabam sendo alvos fáceis de pescadores e esportistas praticantes da pesca submarina. Em algumas regiões do mundo como o Golfo do México, o peixe já se encontra extinto. Há poucos estudos científicos sobre o mero no Brasil, mas as quantidades do peixe nas águas estão cada vez menores.
Fonte: UOL
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