“Quando entrei naquele mar maravilhoso, a impressão foi que meu corpo ganhou outra forma e que eu era outra pessoa, com muito mais movimentos”, diz o suíço Michael Peneveyle, 46.
Ele é diretor da ONG Rodas da Liberdade e uma das primeiras pessoas tetraplégicas –com movimentos restritos abaixo do pescoço– a nadar nas águas da praia do Sueste, em Fernando de Noronha (PE), a mais calma do local, e que agora é totalmente acessível.
Neste mês, ao lado de Yoko Farias, 28, também tetraplégica, Peneveyle conheceu uma realidade ainda distante da maioria das praias do país.
Sobre as pedras, foi erguida uma plataforma que desemboca, por meio de uma rampa, diretamente na praia.
O turista com deficiência ou com movimentos restritos pode entrar na água com cadeiras especiais e a ajuda de monitores. Há também esteiras que facilitam o deslocamento. “A sensação de liberdade que tive foi única”, diz Peneveyle.
A palavra de ordem em Noronha tem sido tornar os espaços de bares, pousadas, serviços e atrações turísticas preparados para receber pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida.
Além do Sueste, há estudos para viabilizar acessos em outras três praias de Noronha.
Dentro do Parque Nacional Marinho, administrado pela concessionária Econoronha, por exemplo, foram construídos 4.500 metros de trilhas que podem ser vencidas por um cadeirante e que levam à contemplação de símbolos do arquipélago como o Morro Dois Irmãos e ao ponto de apreciação de golfinhos
A concessionária investiu R$ 10 milhões para criar a estrutura que conta com pontos de apoio para o turista com banheiros, bares, lojas de souvenires e pessoal de apoio.
Para entrar na instalação é preciso pagar R$ 65.
Há nove anos, Mosana Cavalcanti, 48, fez a trilha até a Baía do Sancho caminhando normalmente por uma trilha rústica. Na última quinta-feira, voltou em uma cadeira de rodas, pois ficou paraplégica em um acidente de carro.
“É emocionante demais para mim e para toda pessoa com deficiência poder ter a chance de contemplar essas belezas”, afirma Cavalcanti, que atua na Secretaria de Turismo de Pernambuco em projetos de acessibilidade.
As embarcações de Fernando de Noronha também estão se preparando.
No barco “Navi”, que tem uma lente no fundo que permite a visão de criaturas e objetos no fundo do mar, está em teste uma exibição do passeio por áudio, o que ajuda os cegos e pessoas de baixa visão. É possível levar dois cadeirantes ao mesmo tempo.
As mudanças em Noronha já estão refletindo na economia local. A empresária Silvana Rondelli viu o movimento de idosos crescer de 6%, em 2011, para 15%, em 2012.
Com isso, resolveu ampliar as condições de acesso em sua pousada, a Beco de Noronha. Outros sete proprietários estão fazendo o mesmo.
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