Extinção iminente para 25% das especies de tubarões e raias

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Tubarão Baleia, em Isla Mujeres, México | Foto: Kadu Pinheiro

Um estudo do Grupo de Especialistas em Tubarão, da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), descobriu que um quarto dos peixes cartilaginosos do mundo, ou seja, tubarões e raias, correm risco de extinção nas próximas décadas.

Esse número parece absurdo, mas é bastante certeiro. A pesquisa feita pelo grupo foi a primeira a examinar o estado destes peixes em mares costeiros e oceanos de todo o globo e revelou que 249 das 1.041 espécies conhecidas de tubarões, raias e quimeras estão em uma de três categorias de animais ameaçados de extinção da Lista Vermelha da IUCN.

Estudos anteriores documentaram sobrepesca de apenas algumas populações de tubarões e raias. “Agora sabemos que muitas espécies, não apenas os carismáticos tubarões brancos, enfrentam o perigo da extinção”, diz Nick Dulvy, pesquisador da Universidade de Simon Fraser (Canadá) e um dos coautores do estudo. “Não existem verdadeiros santuários para tubarões, onde eles estão a salvo da sobrepesca”.

Durante duas décadas, mais de 300 especialistas analisaram as 1.041 espécies em 17 oficinas do mundo todo, incorporando todas as informações disponíveis sobre sua distribuição, captura, abundância, tendências demográficas, uso de habitat, histórias de vida, ameaças e medidas de conservação.

Tubarões e raias estão em substancialmente maior risco de extinção do que muitos outros animais e têm o menor percentual de espécies consideradas seguras. Usando a Lista Vermelha da IUCN, os autores classificaram 107 espécies de raias e 74 espécies de tubarões como ameaçadas. Apenas 23% de todas as espécies foram rotuladas como “pouco preocupantes” no quesito preservação.

Os autores dizem que os principais pontos de extinção são o Indo-Pacífico (particularmente no Golfo da Tailândia), o Mar Vermelho e o Mar Mediterrâneo.

“As espécies maiores de raias e tubarões, especialmente as que vivem em águas relativamente rasas acessíveis à pesca, são as que estão em maior perigo. Os efeitos combinados da superexploração – especialmente para o lucrativo mercado chinês de sopa de barbatana de tubarão – e da degradação de habitat são mais graves para as 90 espécies encontradas em água doce”, explica Dulvy.

Arraias, incluindo a majestosa jamanta ou raia-diabo, estão em situação geralmente pior do que tubarões.

Raia Manta | Foto: Kadu Pinheiro
Raia Manta | Foto: Kadu Pinheiro

Porque salvá-los

De acordo com os pesquisadores do recente estudo, se compromissos para proteger estes peixes não forem feitos agora, há um risco real de que os nossos netos não sejam capazes de ver tubarões e raias em estado selvagem.

“Perder estes peixes será como perder capítulos inteiros de nossa história evolutiva”, afirma Dulvy. “Eles são os únicos representantes vivos da primeira linhagem com mandíbulas, cérebros, placentas e sistema imunológico dos vertebrados modernos”.

A mandíbula foi um ganho considerável na evolução das espécies. Muitos anos depois de já haver animais vertebrados, ela ainda não havia sido incorporada no crânio dos seres mais desenvolvidos. Esta vantagem anatômica foi adquirida no mar, e um dos “pioneiros da mandíbula” parece ter sido um ancestral do ser humano. Um estudo da Universidade de Dublin (Irlanda) concluiu que, há cerca de 290 milhões de anos, viveunas águas do planeta um peixe chamado Acanthodes bronni, o ponto inicial das mandíbulas, cujos parentes próximos mais vivos são os tubarões.

Além de serem parte da nossa história, a perda potencial das maiores espécies de tubarões é assustadora por várias outras razões. “As maiores espécies tendem a ter o maior papel predatório. A perda de predadores de topo afeta toda a cadeia alimentar marinha e tem um efeito de cascata nos ecossistemas marítimos”, esclarece.

43% das espécies de tubarões no litoral brasileiro estão ameaçadas de extinção. Se nada mudar, dezenas de espécies, cujas populações declinaram em até 90% nos últimos 20 anos, estarão extintas nas próximas décadas. A legislação do Brasil proíbe a “caça” de tubarões e permite sua pesca sob certas condições, mas a fiscalização é fraca (por exemplo, uma pesquisa de 2011 mostrou que 21% das nadadeiras de tubarão do mercado de Hong Kong vinham do Oceano Atlântico Ocidental, área que inclui o Brasil e que sugere que nossos pescadores estão envolvidos em atividade ilegal).

O Grupo de Especialistas em Tubarão da IUCN pede aos governos para proteger os tubarões, raias e quimeras através de uma variedade de medidas, incluindo proibição da captura das espécies mais ameaçadas, cotas de pesca com base científica e proteção de habitats-chave.

Fonte: ScienceDaily

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